segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Beija-Flor em alto Mar

Há alguns dias atrás quase fui baleado, quando representava um dos Projetos de Cinema que sou o responsável pela gestão, em um evento promovido pelo governo para encerrar as atividades de cultura nas periferias do Distrito Federal. Salvo por uma peça pregada pelo tempo (O bater das asas de um beija-flor). Quando já estava dentro do carro estava pronto para sair, direto para o aconchego da cama e ficar envolto pelas pernas quentes de uma bela mulher. Senti a súbita necessidade natural e divina, de livrar-me do peso de quatro cervejas de 355 mililitros cada. Cinco minutos depois afastava o corpo, com meia dúzia de tiros calibre 9mm, para liberar espaço para abrir a porta do automóvel. Senti alguma coisa diferente, os sabores e dissabores da vida pareciam ter uma conotação mais nobre, mais clássica, como  beber o vento do bater das asas de um Beija-Flor.

Há pouco acabei de sentir o prazer de ver uma terrível dor em minha garganta ir embora, dor de uma inflamação nas amídalas. Amídalas que minha mãe achava que eu já não as tinha. A dor demorou demais para passar, quatro dias sem comer, sem conseguir beber água ou dormir. Cheguei a entrar em desespero, pensei ser um pressagio de algo maior. A fúria de Ògún. Tinha a sensação de ser o Beija-Flor em vôo incerto, no alto mar, sob forte tempestade.

Seis de janeiro de 2011, às 4:50 da manhã, instalou-se a calmaria, já não era o bater de asas desesperado, descompassado, exaustivo, a água que insistia em invadir minha garganta e narinas, que por vezes me engasgava. Agora é o vento morno, suave e as cores das asas que por vezes transpassavam meus olhos, quando as batia em extrema velocidade, completamente secas. Crianças e adultos sorriem, Celebram, dançam, me recebem com carinho.

A mãe secou os cabelos do menino molhados pela jornada, acariciou sua cabeça por alguns minutos e o chamou: "Meu filhinho". Ele dessa vez não retrucou, nem ficou constrangido.

A menina sorriu com ele na chuva, se deixou carregar para vencer um terreno enlameado, serviu peixe com alcaparras, sorvete e cerveja especial. Cedeu um bom lugar no lado direito da sua cama, colheram doces toques, ela acariciou o seu pé. Deixaram tudo no lugar.
O retorno do Beija-Flor foi seguro, seco e furtivo.