segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Tese onze


Ouça, é o trem. Ele passa de madrugada, sempre no mesmo horário, quando escuto seu som distante, me imagino no vagão, de janela aberta pra aliviar o calor. Meio clichê, eu sei. Nunca andei de trem, não tive tantas experiências sexuais como pensam os que me julgam leviano, falo menos do que eu gostaria e parece que estou ficando fora de moda. Mas ta tudo bem, prefiro assim, analógico, ser eu mesmo, doa o que doer. Acredito que perdemos essa batalha. Sufocam nossa ternura com frieza, vagarosamente. Sim uma vida vale menos que um celular. Desistiram dos moleques, desistimos daquela vida mais perto do mar. Marighella disse pra manter o corpo forte e estar sempre preparado. Na trincheira que me cabe, faço o que sei fazer, faço o melhor que posso e aprendo. Lembra eu e você de mãos dadas marchando com o circo até o Palácio? Tocava sucessos tropicalistas na charanga improvisada. Você gostava mais do trompete com abafador, eu não soltei sua mão e ali, decidimos por salvador. Uma banda, um filme, aulas de desenho, talvez um bar, uma pousada, sem cachorro,  só nossos filhos. Agora tudo mudou. Porem não temos mais medo. Estudar da coragem. Ciências sociais afasta a vaidade, muda as perspectivas e surge essa ganância incontrolável de salvar mais e mais vidas, ambição de mudar o mundo, de ser foda sem ninguém precisar saber. Com você evoluo. É charmosa. Amo seu gosto musical, teu jeito de andar, olhar e a maneira incrível que movimenta as mãos e sorri quando vislumbra lindas metodologias pra se alcançar a justiça social. Queria mesmo era te dar um país. O que achou do Huxley? Eu não sei como sobrevivi tanto tempo sem a filosofia, sem tentar entender, mas admito que é mais seguro ir devagar, aos poucos. Sabe a Tese onze do Marx? É mesmo a coisa mais linda, simples e certa que já foi escrita e sinceramente, não sei se é defeito ou virtude, mas sempre misturo amor e política. Não consigo evitar.