segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Chove

 

Em todo quarto de dormir desse mundo de meu Deus, existe um pau querendo entrar.

O desejo singelo de estar dentro, espioná-la, sensar o mundo entre suas pernas, decifrar a geografia.

Quando amamos uma mulher só conseguimos comê-la olhando nos olhos, e de tanto olhar, tudo se torna um.

De tanto olhar, andamos em um lugar que jamais estivemos antes.

Se a alma não treme o corpo não pede urgência, não explode, não chove por dentro.

Sobre o mundo pesa esse êxtase e o movimento suave dos seus quadris, poetizam com as marés.

Cheiro, gosto, pele, sua respiração afaga meu peito, sua boca entreaberta encontra conforto em meu queixo.

A música chega ao fim, os sentidos se apuram, podemos ouvir a rua.

– Qual seu verbo forte? Você fala um que eu nunca esperava, eu invento um novo.

Música de Oswaldo com letra de Chico. 

Te desejo o vento, que vem tão forte que a água mal toca o chão, até parece o orvalho, mas não amanheceu.

Lembra-me o seu desejo, sua voz que cala a guerra e eu nunca lhe vi chorar.

Vem e entorpece minha alma com sua presença sóbria.

Sincronizado com o meu, seu gozo virá estupendo, sem regras.

Hoje chove dentro de você e ninguém mais morre aqui.

Bem vinda humanidade.

A nossa dança, nosso sexo, nosso suor, um caminho mais curto para o Sul.

Como acabar com a tristeza se todo sentimento só nos faz crescer, se todo artista só é grande se sofrer.

Tentei ler a declaração dos direitos humanos e algo em mim morreu.

Dizia que todo homem era igual perante a lei.

O que é amar?

É um lugar, uma lei?


Teria eu perdido a fé nos seus honestos seios, na sociedade covarde.

Bela Senhorita, pela nossa lei, a gente só é obrigado a ser feliz.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

GAIVOTAS

Quero fazer uma confissão esta noite
porque a noite e a rua foram jantar juntas.
Quero dizer que amo uma mulher
cujo corpo não me dá
o seu calor esta noite,
cuja ausência é um ronsel laranja.
Quero dançar com minha sombra
para que o seu rumor chegue até ela
e ela saiba que eu lhe dou a noite,
toda senhora.
Quero escrever coisas que não se esvaeçam
com o sol,
que a chuva as faça flores
que cheirem a ela.
Quero que as minhas mãos voem,
voem em silêncio
onde ela guarda os seus sonhos...
sonhos que me pertencem
porque eu lhe pertenço.
Quero que ela fique, fique sempre,
quero ser a sua voz
quero ser o seu sorriso verde,
quero ser a sua chuva no cabelo,
quero amá-la mais do que ninguém
ama ninguém.
Quero dizer-lhe, aqui e agora, que a amo
com a minha voz baixa,
com o meu ar de outono lento,
com o meu sabor de beijos possíveis.
Quero que os pássaros sejam
os meus mensageiros de saudade.
Quero que o mundo comece quando ela vir.
Quero sonhar acordado com o seu tato entre as
minhas mãos
a percorrer ela em silêncio o meu peito
e acordar com ela junto de mim,
calada e doce.
Quero só eu dizer-lhe sentimentos
que aceleram o coração,
o seu coração apaixonado,
eu gosto da sua timidez.
Quero nadar na sua boca sem horizontes.
Quero os versos todos do planeta
a falarem dela,
versos curtos de violetas, versos firmes de cravos, versos perfumados de rosas.  Quero suster os seus pés no ar
e trazer ao seu peito gaivotas fiéis
que sempre deixam pegadas na praia.
Quero ser eu no seu corpo da alva ao sol-pôr, de lua a lua de eternidade a eternidade.
Quero amá-la até o meu último alento.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Inimigo

Questionam a educação e alimentam o filho pródigo nem quando a noite cai, os ânimos baixam. É quente e a guerra explode lá fora.
É, temos que fazer a coisa certa, tanta gente que foi embora quanto fantasma e há tempos meu instrumento está encostado. Explode algo dentro do sujeito que dizia amar a todos. Pra mim explode quando tô dentro de você! Sem hipocrisia! Sem covardia! Vestem a camisa da paz e apunhalam o irmão pelas costas. Pelo misero e mínimo rolê nas estrelas, por isso digo: você é a minha erva, minha bebida mais forte. Inimigo número um? Do amor? Da saudade? Da liberdade? Da solidariedade?... Não podem matar a todos! E você ta tão longe. Que poder? ... Poder é o que a gente pensa! Tudo isso não tem nada a ver com controle, esse mesmo que só permite monólogos a sociedade. E de olho por olho acabam todos cegos... correndo em círculos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PARA A PEQUENA MARIA

















Não havia nenhuma testemunha no dia que entreguei minhas armas e dancei com um anjo.

No dia que chorei, porque estava cansado de mais pra lutar.

Vou levá-la a um lugar que tenha muitas árvores, e que em uma ou duas, possamos confiar, deitar em sua sombra e dormir.

Outras possamos ser cúmplices e de vez em quando tirar uma fruta para comer e brincar de Pique-esconde, e em cima delas, desaparecer.

Não um desaparecer de verdade, igual de quando eu escondia os olhos e perdia a consciência.

Um desaparecer igual de quando você entrou debaixo da cama, pra fugir do silêncio.

Não precisa ter medo, a gente ainda pode cantar. E existe também o silêncio bom.

Eu vou chegar à noitinha, e só hoje você pode dormir um pouco mais tarde.

Eu te empresto meus sonhos. Até você ter os seus, e mais tarde posso te dar alguns, se você quiser e se couberem nos seus sonhos.

É tarde! Vou dormir agora, na lua que vamos morar um dia, ouvindo os sons de suas brincadeiras.

Amanhã vai ser um dia cheio. Precisamos ir à praia, andar de avião, comprar um cachorro amigo e um colar bem comprido de sementes.

Tem uma nova peça de uns amigos, que fala de criança, Se você não dormir, a gente vai.

Peixinho dourado? Não sei. Passarinho tem que ser livre, claro! E se fizer sol, a gente abre a capota sim. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ILHADO


Deixei de seguir meus caminhos, incompreensíveis, o sabor da pele tua acalmou a trovoada que não me deixava ser escutado, saí perseguindo tudo que era belo nesse mundo pra não pensar no cheiro gostoso de sua perna, estou morto pra tudo que não é verdade, pra sua crença na utopia do amor, para as caravelas, para as medalhas de lata, que só comovem aos cegos. É minha erva, minha carne, minha bebida mais forte. E enquanto seu cabelo cresce, vou consumindo vinho tinto, pra contaminar-me de desejo e de saudade dos seus olhos vibrantes que me alimentam, assumem a ausência de esperança na humanidade e que bebem meu sangue bem devagar. Sou o Poeta dos excluídos, que olha para o sol diretamente para que a vertigem me leve ao desequilíbrio consciente. Enfeito meu paletó listrado, com fitas, para sentir-me uma divindade urbana e estranha. Estou... em busca da nossa Ilha Suspensa no Ar.


Vejam o vídeo, narração de Gil Sampaio e música de Cartola.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O BILHETE


6:30 acordei e você não estava ao meu lado mas sentia você, meu faro te perseguia, te identificava. Sonhei com um leão que corria junto comigo do meu lado e acordei suado. A gente se beija e se toca, a sua fé e a sua boca que invadem o meu semi-árido lábio superior, entorpeço, adormeço na polpa do mundo. Estamos em estado de espetácularização, não cabe aqui os loucos de cristo sem fé, com medo de tudo, gente que simplesmente desaparece, sem deixar nenhum vestígio. Tu vais deixar a sua marca na Terra, porque pensa e sente tudo em uma freqüência totalmente genuína. Ninguém conquista gloria alimentando fé com atitudes covardes. Andei por algum tempo como Leão banido, hoje novo nesse bando, junto de você, encontro a paz e sou agora tão forte que nem mesmo sei medir minha força.
Buon giorno principessa, vou indo tenho que conquistar o mundo.

sábado, 21 de agosto de 2010

O BILHETE DE DESPEDIDA DA MANHÃ SEGUINTE

(Segunda-feira 7 horas da manhã faz frio)

Nada tenho, vez enquando tudo, avanço devagar na sinceridade dos seus olhos, conquisto o privilegio dos bravos, me entrego pra suas mãos invadindo meu cabelo e sua língua na minha pele água e sal. Amanheço descansado, renovado, dormi com o sabor do beijo, quando vira e pela ultima vez me olha, a luz atravessa a fresta da janela e ilumina um quarto do seu rosto, fica no meu repertorio imagético, um dia pode ter vida na arte, já tem vida em mim, nosso dialogo complexo, nossas noites insanas, o beijo nas minhas costas. O feromônio, meu cheiro na sua cama, essa noite quando adormecer vai pensar que estou ai, dormindo do seu lado, sente!


PS: Você é linda!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ALEATÓRIO

No aeroporto entrei em uma livraria pra não ver o tempo passar e resolvi ler um trecho do Pequeno Príncipe (clichê) aleatoriamente, fechei os olhos e deixei o livro cair, peguei o livro do chão e comecei a ler a pagina que tinha sido oferecida. O trecho falava do acendedor de lampião de um planeta que já fora grande e os dias e as noites duravam 24 horas, e hoje com o aumento da velocidade que o planeta gira na sua orbita, devido a misteriosa redução do seu tamanho, os dias e as noites duravam 1 minuto cada obrigando o acendedor a executar seu ardo trabalho de minuto a minuto apaga e acende deseja boa noite e deseja bom dia. Na real não quis interpretar nada nem tentar encontrar um porque dentro de possibilidades do destino, nenhuma mensagem, quando estiver com a alma mais tranqüila penso sobre isso. O IPOD no aleatório também me presenteia com grandes surpresas, como no livro do Pequeno Príncipe. Mais o que ficou de mensagem de aprendizado é que tenho que cuidar melhor daquilo que cativo.

Resolvi fazer uma parodia do texto de uma menina que é uma grande escritora e acredito que ela seja a minha versão feminina, espero que goste. Vou para o aeroporto.

Dessa vida eu quero amor, intensidade e sabedoria. Morar em NY, Caraíva, ter mais um filho e um cachorro. Viver de mar, amor e ar. Falar quatro línguas e ser doutor no olhar. Morri e nasci. Quero um carro bem grande e ser motorista oficial do time de futebol do meu filho. Viver cercado de amigos. Quero acolher todos os vira-latas do mundo, crianças, velhinhos e quem mais precisar de amor. Sou sensível pra danar. A minha vida é minha, meu tempo é outro. Conheço a respiração do mundo. Eu amo estrelas. O meu lado feminino adora ficar comigo. Somatizo demais, penso demais, corro demais. Tudo por dentro. Sinto tanta saudade que parece que estou junto. Rir é o meu remédio. Ela é Luiza por causa da música e quero dizer guerreira. Adoro mãos e patas. Acho as pessoas tristes e lindas. Amo as estranhas e inéditas. Todas são bem vindas. Sofro a cada jornal. Quero dançar e descer longas escadas. Gosto da vida com trilha sonora e editada. Tudo o que não vivi dói. Sou perdido, não tenho dificuldade com rodas. Me aceito, comemoro, me recebo. A cada novo encontro, a cada novo beijo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SEM LAR

Os olhos queimam perto das encostas das marginais, a condição que nos encontramos é confortável se não precisamos nos ver e os que desistiram estão a seguir as linhas que cortam a cidade, não têm dono, não esperam, matam o tempo, para o tempo não os matar.
Os cães farejão o meu rastro indeciso, mas o caos da minha alma me mantém vivo nesse cotidiano insano. Vivo o dia e a noite me vive, a cidade é adaptada, é relativa. Os pensadores não se acham aqui, confusos no amontoado de dores. Os pássaros, os olhos, a janela, a calha, a sombra, a rua, a sede, a amada, a mesa, a luz, o peso.
Senhoras e senhores os inquietos estão cada vez mais sossegados e eu perdi o direito de admirá-la, porque ela já não é, mas admirável. O hotel, a cama, o calor na base da espinha, o descontrole e suas teses cheias de especulações vazias e sua covardia me empurraram para braços alheios e meu pau abandonado sem casa, não volta, não quer mais voltar. Encontrei a explosão do fluxo das minhas idéias materializadas nos meus fluidos. A cada estocada profunda e quente encontro um novo lar a minha altura, esse purgatório é cômodo por algum tempo, mas eu sei o caminho.

terça-feira, 29 de junho de 2010

A DIVINA COMÉDIA DE DANTE




O chuveiro hoje me parece o lugar mais seguro, quando a água quente cai sob a cabeça, que queima o cabelo, escore pelos olhos e obriga-me a manter-los fechados, nesse momento sou consumido por uma espécie de transe, envolvido pela água escaldante, como Dante de Alighieri a caminhar pelo inferno sozinho, perdido e de alma cansada, para vencer os nove círculos.


O amor, pra quem nunca teve, parece algo ridículo, para os que amam surge em certos momentos à estúpida necessidade de colocá-lo a prova. O amor não é palpável, mas existe como as incansáveis flores que insistem em levar uma única gota de orvalho da beleza, para onde não existe nada.

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces,
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada''.

domingo, 6 de junho de 2010

SÓ EU

Caminho sozinho e preparo a terra para receber as roseiras vermelhas, e as amarelas também. Enquanto na tempestade que são meus pensamentos, locomovo-me sem dificuldade alguma, só entristeço quando olho pra traz e vejo os que congelaram ao tentar me acompanhar.



O Jardim estava em rosa ao por do Sol
Deixando por tudo uma presença de água
Tudo limpo que nem toada de flauta
A gente se quisesse beijava o chão sem formiga
A boca roçava mesmo na paisagem de cristal
As sombras se agarravam nos folhedos das arvores.
Tinhas um sossego tão antigo no jardim
Uma fresta tão de mão lavada com limão
Que desejei
Mulher não desejei não
Desejei, se eu tivesse ao meu lado ai passeando
Suponhamos... Lênin, Carlos Prestes, Ghandi, um desses.
Na doçura da manhã quase acabada.
Eu lhes falava cordialmente, se abanque um mucadinho.
Coisa assim
Que colocasse um disfarce de festa nos pensamentos dessas tempestades de homens.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Era uma vez no México


































































Minha querida, estive longe... Procurando um exército, um sonho, uma saudade.
Mas meu coração, minha querida, sempre esteve perto, batendo junto do seu.
Levei comigo seus olhos, minhas culpas e dúvidas.
Dormi na chuva, acompanhei noites que pareciam nunca acabar.
Conheci homens que morriam a cada dia um pouquinho, às vezes por ignorância, outras vezes por serem simplesmente humanos.
Compreendi a guerra e a solidão que não se explica. A força do Sol e o silêncio do escuro.
Não encontrei todas as respostas na arte, confrontei-me com meus personagens, meus livros e discos.
Juntei tudo o que sentia em uma garrafa e bebi de uma vez.
Minha querida, deixei meu coração batendo junto do seu.
E não sei mais achar o caminho de volta.
Querida, estou cansado, a subida é difícil e a descida truculenta.
Sinto que os anjos às vezes me abandonam, mas tem dias que quase me devoram.
Vi o segundo exato, que a vida se apaga nos olhos.
Senti a impotência e a angústia de tomar a decisão errada.
Perdi, mas ganhei.
Acertei, mas errei.
Enlouqueci de ar e sufoquei com paixões.
Minha querida, eu deixei meu coração batendo junto do seu.
E não sei mais voltar.
Fui advogado do meu personagem mais soberbo e dormi com ratos.
Nadei até perder as forças e encontrei a consciência.
Escondi-me em uma velha biblioteca, dei a vida, e não controlei o pranto, no primeiro suspiro do anjo que vi nascer.
Compreendi o sublime vendo você de longe e sorri sozinho.
Entreguei minhas armas, fiz as pazes com DEUS.
Minha querida, deixei meu coração batendo junto ao seu.
E não consigo mais achar o caminho de volta.