sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TULIPAS


Minha Febre passa no tempo das nuvens que se movimentam, parece o mar sobrepondo o mar, que sobrepõe outro mar, que Deixa atravessar a luz que suave invade a janela, Igual seu beijo doce, que termina com a mordida que me acorda e sua mão embreada nos fios ressecados de meu cabelo, fecho de novo os olhos.
Achei que nossos pés iriam incendiar o mundo e que suas cochas alvas me matariam três vezes ao dia e nelas adormeceria e recomposto beijaria a Tulipa que não morre com o calor do Sol que tenho na língua, e o tempo, que mata devagar as folhas deitadas no chão, teria o mesmo ímpeto de vida que adentro na festa que acontece na sua alma quando a tua dor passa. Não quero ver-te sentindo dor. Sou só vento penetrando seus cabelos, tão forte quanto o desejo dos meus lábios de percorrer suas costas, como se pudesse curá-las de algum mau.
Sem água, de boca seca e salgada, deixo você ir, e se você volta, impetuosa e embriagada de mim. Com certeza andaria com você, sem pressa, no campo perdido dos sonhos ácidos e beijaria seus cílios, raros como as penas das asas de um pássaro, arquitetadas pra voar.
Nunca perguntei qual é o seu sonho. E eu continuo, na poeira clara e seca, apodrecendo sob o Sol de Brasília, perdido nesse mar de Tulipas.

Legenda da imagem: Tulipas Negras 2 - Oleo sobre tela - Isabel Cristina Pereira Vono

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A pedra do reino


Seu Coronel, é pela admiração e respeito que tenho pelo senhor que vou lhe relatar minha condição, não se aperreie comigo não e nem entenda mal o meu desejo, porque já não posso, mas passar sem sua mulher Coronel, não posso! Ela é minha estrada, meu contrato com as estrelas, a chuva que me embebeda e a sede que não me deixa dormir.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Espasmos e Fragmentos – A montagem - aula 2


A noite acaba e ainda continuo. Como ela, que olha pela fresta da janela pra ver como esta o tempo, eu acordo como de um espasmo e olho pra um canto do quarto, a primeira coisa que vejo é o calçado da minha filha e sinto a velha saudade desesperante. Fragmentos que montam o dia, a semana, o mês, a vida. Queria acreditar em tudo que ouço e pelo menos conseguir dormir. E se for contra a minha natureza, o que vou perder, o que vou ganhar? Se ela ouve a música do vento e fica feliz com as cores que o Sol pinta no céu, quando se poe. Porque também não consigo? Continuo dormindo e acordado e na janela meu cachorro exonerado da policia. Que nem eu, ele também estava contra sua natureza, que nem eu, ele fecha os olhos quando alguém o toca, que nem eu, ele abandonou suas armas e dançou com um anjo.
Será que danço com ela na avenida principal da cidade, em uma noite como a de ontem, que só existia o vento.