quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Desafinados


O encanto, o encontro com a magnífica raça humana pra mim, se dá quase sempre por afinidades artísticas. Artistas se comunicam com o mundo em uma freqüência democrática e depois decodificam tudo para a língua dos anjos, quando sonham, bebem, gozam, quando não dormem e criam.
O artista verdadeiro não anda como se estivesse acima das nuvens acima de todos e tudo, ele é simplesmente um operário, um operário da arte com o dever de encantar e fazer o mundo inteiro se apaixonar e às vezes esquecer nem que seja por um único, mesmo que mínimo instante tudo que esta em volta, para contemplar algo realmente belo e original.
Amo pessoas, mesmo sabendo que o meu cachorro, é melhor que muita gente. Hoje com trinta e quatro anos percebo que mesmo adorando estar com pessoas não me relaciono com elas tempo suficiente para criar um vinculo, ou melhor dizendo uma amizade. Amigos tenho dois, e é de um deles que vou falar agora. Eu ensinei a ele a apertar um baseado, a moda antiga é claro. E ele me ensinou a tocar violão. Pela nossa diferença de idade e por na época os estudos sobre intergeracinalidade do Mestre Juarez Sampaio da Faculdade de educação Física da UNB, que depois de formado tive o prazer de trabalhar, ainda não serem populares entre jovens não acadêmicos, impossibilitou a concretização da nossa amizade. Que mas tarde veio solidificar-se com a ajuda da música. Mas o que é essencial para falar desse excepcional músico e ser humano que consegue relacionar-se com a noite e seus encantos com extrema harmonia e talento, é que temos em comum, alem do extremo bom gosto para mulheres, é a sensibilidade de passar mais de uma noite só com mulheres incrivelmente inteligentes e que conseguem despertar em nos a verdade. E principalmete as mulheres que quando olham nos nossos olhos dão a impressão de que sabem exatamente a onde vamos chegar. O ultimo ponto em comum entre nos, mas não o menos importante, é que mesmo estando em paz em quase todas as vinte quatro horas do dia, essa paz propriamente dita, só é concretizada quando estamos entre as pernas de uma mulher intensamente interessante.
Trecho do filme, desafinados retrata muito bem o dia em que realizaremos o encontro das nossas artes.

Força, Liberdade e sucesso.

Desenho By João
Ps: Assistam ao filme.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TULIPAS


Minha Febre passa no tempo das nuvens que se movimentam, parece o mar sobrepondo o mar, que sobrepõe outro mar, que Deixa atravessar a luz que suave invade a janela, Igual seu beijo doce, que termina com a mordida que me acorda e sua mão embreada nos fios ressecados de meu cabelo, fecho de novo os olhos.
Achei que nossos pés iriam incendiar o mundo e que suas cochas alvas me matariam três vezes ao dia e nelas adormeceria e recomposto beijaria a Tulipa que não morre com o calor do Sol que tenho na língua, e o tempo, que mata devagar as folhas deitadas no chão, teria o mesmo ímpeto de vida que adentro na festa que acontece na sua alma quando a tua dor passa. Não quero ver-te sentindo dor. Sou só vento penetrando seus cabelos, tão forte quanto o desejo dos meus lábios de percorrer suas costas, como se pudesse curá-las de algum mau.
Sem água, de boca seca e salgada, deixo você ir, e se você volta, impetuosa e embriagada de mim. Com certeza andaria com você, sem pressa, no campo perdido dos sonhos ácidos e beijaria seus cílios, raros como as penas das asas de um pássaro, arquitetadas pra voar.
Nunca perguntei qual é o seu sonho. E eu continuo, na poeira clara e seca, apodrecendo sob o Sol de Brasília, perdido nesse mar de Tulipas.

Legenda da imagem: Tulipas Negras 2 - Oleo sobre tela - Isabel Cristina Pereira Vono

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A pedra do reino


Seu Coronel, é pela admiração e respeito que tenho pelo senhor que vou lhe relatar minha condição, não se aperreie comigo não e nem entenda mal o meu desejo, porque já não posso, mas passar sem sua mulher Coronel, não posso! Ela é minha estrada, meu contrato com as estrelas, a chuva que me embebeda e a sede que não me deixa dormir.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Espasmos e Fragmentos – A montagem - aula 2


A noite acaba e ainda continuo. Como ela, que olha pela fresta da janela pra ver como esta o tempo, eu acordo como de um espasmo e olho pra um canto do quarto, a primeira coisa que vejo é o calçado da minha filha e sinto a velha saudade desesperante. Fragmentos que montam o dia, a semana, o mês, a vida. Queria acreditar em tudo que ouço e pelo menos conseguir dormir. E se for contra a minha natureza, o que vou perder, o que vou ganhar? Se ela ouve a música do vento e fica feliz com as cores que o Sol pinta no céu, quando se poe. Porque também não consigo? Continuo dormindo e acordado e na janela meu cachorro exonerado da policia. Que nem eu, ele também estava contra sua natureza, que nem eu, ele fecha os olhos quando alguém o toca, que nem eu, ele abandonou suas armas e dançou com um anjo.
Será que danço com ela na avenida principal da cidade, em uma noite como a de ontem, que só existia o vento.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O fotômetro - Aula 1




Será que temos em comum a luz? Uma vez ouvi, que um arquiteto deve sempre levar em consideração a luz para conceber um projeto, a natureza. Quando fotografamos um filme também temos que levar em consideração a luz, ela é uma pela manhã e outra depois das 15 horas, é uma em julho e outra em dezembro, no hemisfério norte é diferente do sul e influencia na temperatura da cor e na sensibilidade da película.
Quando surgiu o cinema os homens ficavam atônitos acreditavam que os corpos estavam fragmentados, A necessidade do homem de abrigo veio há muito tempo, antes de quase tudo no mundo, o homem também constrói a imagem há muito tempo, mas nunca imaginará ela em movimento.
Resolvi andar, em lugares que gostaria de estar com você. Para entender melhor a luz, engraçado logo eu questionando a poesia será que perdi a crença nela, na sua função, como você, que não acredita em prédios e edifícios que são nada mais que bonitos.
Uso o cinto de segurança, ainda almoço rápido, às vezes como abacaxi com sal, a publicidade e o cinema todo dia na balança. O lago me abraça e quando virei a cabeça para respirar, a luz de novo, agora quase me cegando, pensei em o que você construiria ali naquele local, com aquela luz, que levasse em consideração a eficiência da iluminação natural, a funcionalidade e quem sabe fizesse justiça. Lembra?

Legenda das fotos:

1. Igreja da metropolitana uma das primeiras construções dos candangos para instalarem-se no planalto para construção da capital, não sei se eles levaram em consideração a luz. Conclusão: A tarde eu volto pra ver como é a luz lá dentro, locação pro meu ultimo roteiro.

2. Sacando a luz e escolhendo a locação, para cena de perseguição de carro. Local: Setor de Chácaras do Núcleo Bandeirante. Conclusão: a luz só é boa pela manhã, pelo menos em agosto.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Transformar.


Conectado com a madrugada espero o dia para testemunhar a mudança das cores, a chegada da luz e o meu reflexo dizem, quem eu sou hoje, e que mudanças ao de vir. Vento, calor, sol, frio, falta de sono e a vontade de não voltar confirmam que não tenho lar, dirijo sem a necessidade de ir a algum lugar, na cidade alva mármore, de letras douradas e utopia. Meus amores tortos e minhas paixões seletas convidam-me para um passeio no mundo e a pequena de olhos negros que sempre no domingo vai embora e deixa-me o vazio sereno, uma vontade súbita de dormir, de beber, de sumir, de não trabalhar no dia seguinte, de me encontrar de novo com minha essência, de voltar até o começo da minha vida pra descobrir onde perdi minha ternura. As cartas que me fizeram continuar e os sabores que para conseguir separar no mesmo prato e experimentar um de cada vez, tive que romper com a urgência que me estrangula. Achei que podia suportar o frio e descobri que do frio eu nada sei, um apartamento vazio, um colchão, água e música. Eu, o homem que não vê vazio nos encontros rápidos, e a felicidade, de saber que a Negra que tantas vezes me apaixonei encontrou a paz.
As catástrofes da nossa alma nem sempre levam por completo a nossa beleza, continuar é sempre a melhor opção. As magoas que me presentearam agradeço, mas não consigo conviver com as magoas que causei, vou ficar aqui, comigo, assim sou mais útil, impossível não causar impactos, mas que sejam brandos, não quero mas a evidencia da transformação alheia.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sonho, história ou estrada?


Observo as pessoas, a sociedade, as cenas do cotidiano, quando realmente paramos para observar da pra perceber a missão de cada um. É preciso  perceber. Onde as pessoas estão indo?
Hoje uma cena me marcou, enquanto esperava dentro do carro na plataforma superior da rodoviária de Brasília, uma mulher limpava o chão da rodoviária acompanhada por seus dois filhos, dava pra ver a expressão foda que eles tinham no olhar, dava pra ver na cara a dignidade que a mãe ensinou. Pensei em um filme, pensei neles daqui a dez anos e vi uma possibilidade, vi uma saga, vi um livro. Mulher raçuda dá sempre uma boa história, é lindo, e sempre me encanta.
Quando comecei a estudar interpretação, direção, teatro, cinema, a primeira coisa que aprendi foi a observar. Observar é uma arte, Quando observamos adquirimos cultura, ampliamos nosso repertorio imagético, gestual, surgem possibilidades e criamos histórias, muitas histórias e nem todas vamos conseguir contar.
A foto que ai está tirei na volta de uma viajem ao sul da Bahia, tirei a foto com o carro em movimento sem preparar muito o foco, a luz ou a velocidade da câmera, mas conseguia ver a imagem e ela ficou exatamente como imaginei, eu sabia que jamais veria aquela menina, sentada na frente da casa do lado da estrada, mas sabia que ela seria uma história, uma história que eu conheceria e as histórias não morrem, filmes e discos queimam, quebram, dissolvem-se, as histórias são para sempre. Isso foi há dez anos atrais.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O PREGO


Não dá pra parar, sinto vida solida percorrendo meu corpo, preciso andar, a janela aberta, a cidade Utopia mostrando seu espetáculo, o carro parece mais confiável e confortável quando não temos opção, há não ser viver na velocidade que nos foi ensinada, a velocidade de quem tem sede de viver. Uma vez tive um sonho que enquanto dirigia o motor do carro esquentava e saia fumaça pra todo lado. Então uma pessoa interpretou este sonho e concluiu que era uma projeção do meu stress no carro, como se eu fosse o carro e estivesse esquentando e saltando fumaça pra todo lado, ou seja, no limite.

Quando acordei fiquei olhando quase vinte minutos para um canto da parede, buscando forças, levantar e seguir. Quando fui até o carro percebi que o pneu estava vazio, logo descobriram que um prego de sete centimetros alojara-se na borracha e de pouco em pouco liberava o ar, esvaziando o pneu vagarosamente. Pensei um pouco e fiz uma projeção, analisei, e ao final cheguei à conclusão que o prego sorteado, uma agulha no palheiro, depois de anos sem furar uma única vez o pneu, achava até estranho quando via os carros parados nas ruas e as pessoas trocando o pneu, eu me perguntava: Porque meu pneu não fura? Não sabia nem onde estava o macaco. Mas voltando ao prego, na minha projeção analítica Semiológica espírito sensorial, conclui que o prego queria me dizer pra ir um pouco mais devagar, ninguém consegue tanto tempo tão rápido, não dá pra ler as placas, não dá pra ver as pessoas que passam e não dá pra voltar, vem gente atrás na mesma velocidade na mesma urgência e nem sempre a sorte está do nosso lado.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Crescer

Machuca de Andrés Wood, faz uma sensível analogia das historias em quadrinhos americanas de O Zorro, O cavaleiro solitário e o indio Tonto, seu amigo e companheiro inseparável de aventuras no velho oeste americano. Que viria a ser um famoso seriado de TV, no mundo inteiro.

Andrés Transporta a saga do cavaleiro mascarado para o ano de 1973 e contextualiza com a historia de Gonzalo Infante (Matias Quer) e Pedro Machuca (Ariel Mateluna). O filme retrata fatos históricos do Chile, país com a maioria da sua população indígena.
Um dos personagens é vidrado nas aventuras de Zorro e Tonto, e com a abertura do caro e sofisticado Colégio Católico San Patrick, para estudantes bolsistas de baixa renda. Quando inicia-se a amizade conturbada dos dois garotos, um índio e o outro pertencente à elite chilena. Destaque para a personagem solida, politicamente lúcida e leal ao partido socialista, interpretada incrivelmente pela atriz Manuela Martelli, que em certo momento afirma, que seria impossível existir uma amizade entre um homem branco e um índio, em critica a historia de Zorro, O cavaleiro Solitário. Enfatiza assim o conceito principal da película. 

Fiquei pensando nas nossas posições políticas, e me imaginei no ano de 1964 no Brasil, em plena forma para tomar uma posição politica, agressiva e radical, exercer meu livre arbítrio. Analisei a sociedade que vivo hoje. Fui dormir triste, lembrei do momento em que descobri que não existia justiça. Eu tinha 11 anos, decidi que faria minha parte, tudo que fiz e aprendi carreguei comigo o dever de repassar para os outros, capoeira, teatro, cinema, multipliquei. Mas parece que a diferença que achei que podia fazer, é menos que mínima, a posição política de hoje é ter. Estou sozinho tentando ser e sentir. Talvez em 64 eu não fosse tão sozinho, eu e meus sonhos. Talvez hoje seria eu, mais um retrato na camisa de uma mãe, lutando por justiça ou em um cartaz de  presos políticos desaparecidos, ou brigando em tribunais por anistia. Tenho 34 anos, tenho muita energia, tenho uma pequena dos olhos mais incríveis do mundo, que é meu partido político é minha posição ideológica, minha meta é deixar para ela, algo que as celas úmidas da ditadura de Pinochet e do DOICODE brasileiro, não podiam tirar de um homem, e ainda não podem, educação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mais uma sobre mulheres.

Existem mulheres que não tem tempo para serem fracas, vão caminhando, vão mantendo a ternura, o sorriso claro sem tempo para hipocrisias ou mentiras, a meta é colecionar sentimentos nobres eles valem mais pontos, nos dias difíceis. Primeiro os filhos, depois a pele, diz sim se for intenso, porque a boca é qualquer coisa entre o céu e a terra. Serenas, falam pouco, ouvem mais, a tonalidade e o brilho das peles refletem a saúde, tudo cheira bem, aconchego para os que voltam pra casa. Vou vivendo, esperando, abraçando, respeitando o tempo, aprendendo a educar, criar, amar, pra ela me admirar, vou desejando bom dia, boa tarde, boa noite, deixo-a entrar, vou embora quando chega minha hora, tenho varias músicas pra mostrar e alguns meses pra partir, quero levar essa qualidade de vida pra manter-me vivo quando estiver longe, em um lugar frio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Às cinco da tarde.





A estrada acordou primeiro, e a reflexão me manteve alerta quase toda noite como se tivesse que me manter vivo por um processo de transfusão de força de vencer, como se a segunda fosse o começo da minha vida, como se na segunda tudo pudesse melhorar, na segunda tudo seria perdoado e esquecido. O som dos caminhões frenéticos cortando a artéria da cidade, despertam-me, de outro lugar que estive enquanto não dormia, um lugar onde o Sol brilha mas não esquenta, nem corpo nem alma, nada cresce, o leite não brota nas mulheres e os animais morrem de sede. Quando abri os olhos cheios de dor, mas uma dor que só enche-me de vontade de mudar o mundo. Percebi que tinha me transportado para o filme que assiste na tarde melancólica de domingo, em que a TV tem a insistente função de te anestesiar e te conduzir à silenciosa e casta rotina.

O filme às cinco da tarde é uma obra prima, o olhar de uma mulher (Samira Makhmalbaf) Contando a historia de outra mulher castigada por um sistema político cruel, sangrento e insano. Lugares como o Afeganistão, onde o filme se passa, me dão a impressão que ali, “até Deus morreu”. Não sou cético, não são palavras minhas. Só que às vezes vejo muito mais esse Deus em algumas mulheres, no amor que sinto por elas. Depois do filme deu-me vontade de pedir perdão para todas as mulheres que fiz sofrer, que deixei, que não as amei como deviam ser amadas. Queria poder dizer que não fiz por mal, é o desespero de fazer a diferença que me consome, não é por vaidade, mas pra melhorar a qualidade de vida a minha volta.

Lembrei de uma feminista que conheci em uma noite que nunca teve fim pra minha alma que ainda deseja amá-la como se fosse minha ultima chance. Seu jeito de encarar as coisas, que para muitos parecem simples e a sua fidelidade aos seus ideais. Mudaram a imagem estereotipada que tinha das feministas, o toque suave da minha boca na sua pele rosa, ainda me fazem sentir como se tivesse cinco metros de altura e fosse invencível. Alem da minha filha, Ela era a única pessoa que gostaria de abraçar e ver esse filme, nesse domingo só, como os abrigos improvisados do Afeganistão.

Espero que Deus esteja vivo.


Às cinco horas da tarde

Federico García Lorca

Às cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte

às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando de iodo se cobriu a praça

às cinco horas da tarde,

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido

às cinco horas da tarde.

Por sua frente o touro já mugia

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

Ai que terríveis cinco horas da tarde!

Eram as cinco em todos os relógios!

Eram cinco horas da tarde em sombra!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

BOB O GATO


Quando minha Avó deu o Bob, o gato para Minha filha, a Maria Júlia, já sabia que ele era especial, eu não sabia por que, mas ele tinha algo diferente, chegou pequeno se escondendo atrais dos moveis e minha filha querendo brincar, ficar com ele no colo, mas dava para ver nitidamente nos seus traços de personalidade que Bob, o gato, não era adepto de carinhos. Maria Júlia sofria, e perguntava: - Papai o Bob gosta de mim? E eu dizia: - Gosta filha. E completava dizendo que ele estava se acostumando à casa nova e tal. O gato maluco reforçou o relacionamento entre Maria e eu. Tínhamos pela primeira vez algo em que nos dedicávamos juntos. Quando falo gato maluco não é só força de expressão, o bicho era meio tan-tan. Por não ter muito contato com outros gatos ele pensava e tinha atitudes de um cachorro, e começou a confundir a cabeça da poodle (Encardida), uma cadelinha que achei na rua perdida e desidratada, que passou a comer comida de gato. O animal tinha um passatempo curioso que consistia em acordar o pastor alemão de quase cinquenta quilos e em seguida correr para debaixo do carro ou subir em alguma árvore, o engraçado é que eu tinha a impressão que o danado divertia-se com a mórbida e arriscada brincadeira. Como nunca acreditei nessa eterna guerra entre Cães e Gatos, me esforcei para provar essa teoria, e enfim consegui estabelecer a paz entre os animais lá de casa, Cães e Gatos em harmonia no rotineiro banho de sol matinal e imagine que um pastor alemão (Negão), que falarei dele em um outro momento, pode estraçalhar um gato com seus dentes, em oito míseros segundos. Acredito que onde existe boa vontade, cooperação, fé, leveza e respeito pela vida, a paz se instala.
Só não consegui que Bob o gato se desse bem com os calangos e pássaros. Os passarinhos que faziam seus ninhos na parreira se mudaram e dia sim, dia não tínhamos um corpo estirado no chão, de um pobre calango, mortes essas que com o tempo foram afetando a cadeia alimentar do meu pequeno eco sistema de oitocentos metros quadrados, aumentando consideravelmente a população de insetos.

No começo suportei Bob porque minha filha estava feliz com ele, depois toda casa se habituou à sua presença perturbadora. Não dava para saber quando ele resolveria pular na sua cabeça para pegar o cabelo que balança pela ação do vento, o susto era meio desconcertante e engraçado. Amarrar bolas de borracha e pedaços de papel no barbante para chamar a atenção de Bob, passa a ser uma das brincadeiras preferidas de Maria e uma boa distração para que o Cabuloso felino parasse de atacar tudo que se mexe.


Bob o gato foi embora e me deixou a difícil tarefa de ensinar minha filha a Maria Júlia a entender a perda. Antes de contar para ela o fato, fiquei em duvida se contava as possibilidades reais do desaparecimento do Bob, como assassinato, atropelamento, virar churrasquinho, pandeiro, ou se eu inventava uma história bonita e leve que a deixasse feliz com o novo destino do bicho. Bem optei pela segunda opção, contei para Maria que o Bob tinha arranjado uma namorada, uma gatinha cinza que morava ali perto e que eles tinham resolvido viver juntos. Às vezes eu brinco que ele passou em um concurso e se prepara para financiar um imóvel pela Caixa Econômica Federal.


Não sei se faço bem escondendo a verdade dos fatos para minha filha, talvez eu  esteja enfraquecendo-a para o mundo, deixando seu coração mole, leve demais. Mas a onde esta escrito que temos que ser fortes o tempo todo, a hora dela de ser forte vai chegar, eu só posso tentar dar-lhe ferramentas, como justiça, saúde e inteligência, para enfrentar o mundo. É quase tudo que ela precisa.
       

segunda-feira, 18 de maio de 2009

MAR ADENTRO.

Esse filme me foi apresentado em uma brincadeira de pessoas apaixonadas por cinema, tipo me mostra seu melhor filme e eu te mostro o meu. Não vou contar o filme porque algumas pessoas ainda não viram, mas em uma das cenas mais fortes do filme, ela, minha amiga apaixonada por cinema, chorava muito, e entendi algo que não conseguia ver antes, que alem de entretenimento e identificação, o cinema, ou seja, a arte em geral, deve nos arrebatar nos tornar seres melhores, mesmo que por um curto espaço de tempo.
Uma obra deve nos tirar do cotidiano e dar vontade de sair de madrugada andando até a esquina para comprar um vinho, de beijar na chuva, de fazer sexo diferente, ousar em uma roupa, e falar para alguém o que sentimos e guardamos a muito tempo, de mandar um e-mail para aquela velha paixão, tocar o instrumento que está encostado e dizer bom dia para quem passa.

Depois de um tempo, quando essa amiga já não fazia mas parte da minha vida, estava na cinemateca do Rio de Janeiro, fazendo uma pesquisa de imagens para um filme. Quando encontrei em um canto de um dos corredores da cinemateca, as latas de filme de Mar adentro, eram cinco no total. Dali emanava uma energia, no fundo são latas de metal contendo rolos de filme de celulose, mas para eu, era sentimento, engenhosidade, sensibilidade, o conteúdo daquelas latas ali no canto de um corredor da cinemateca, me ensinaram, por exemplo: como representar a imaginação de um personagem de maneira única e genial, sem clichês, soluções fáceis e ingênuas. Inconscientemente passei minha mão sobre sua superfície empoeirada, como quem acaricia a cabeça de um doente sem esperança, no corredor de um hospital superlotado.


Mar adentro

E na leveza do fundo

Onde se realizam os sonhos

Juntam-se duas vontades

Para cumprir um desejo

Seu olhar e meu olhar

Como um eco repetindo sem palavras

Mais adentro

Mais adentro

Mais além do que tudo, pelo sangue e pelos ossos.

Mas desperto sempre

E sempre quero estar morto para seguir com minha boca enredada em seus cabelos. 


Trecho do filme, espero que gostem!

NO CENTRO NO MEIO DO CANTO.


E as musicas, livros livres e filmes dedicados a tudo que foi. Todas as tardes de sol e as noites de lua, o que chegou depois, o que chegou sem consistência. Chegou marcado por um passado trágico e um sorriso frágil de fracasso percebido, de medo da vida, sem misturas sabias. Sozinho e pálido, meio as verdes sólidas que perfumou o caminho. Rápido saltou no meio dos ventos cantadores de estórias, que esperavam chuva quente pra molhar o chão torrado rachado. Que escorrega cria lama faz fama no centro no canto, escondido, criando calos, um pouco calado, sorrindo de lado, temendo o fracasso. E a solidão do parto de puta, no centro no canto do quarto, de um lugar cansado, com pássaros que comem ratos e esperam fatos isolados, sombreados pelo tempo das rochas que já foram água, que correm veias matas tortas, sem compromisso, pouco submisso, sujo, ferrado, listrado atacando o peixe que pensa que nem serpente, consumindo o grão do fim do ano, sem pensar no fim do seu encanto. No meio no centro no canto de um pedaço escuro do Sol.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

SUAS MÃOS, OS ANTI-HERÓIS E O BREU.



Não escolhemos as pessoas que entram na nossa vida. Elas simplesmente passam a fazer parte. De repente já não sabemos mas viver sem elas, e não sabemos como vivemos tanto tempo sem elas.
Uma menina me disse que a felicidade era subjetiva. Essa mesma menina me deu a mão no escuro, e seu beijo suave me acalmou. Sinto vontade de ser menos critico e de voltar para casa. Como ela diria: “Vamos levantar, e bola pra frente”. Essa menina tinha tudo para partir meu coração, mas com os dedos enfiados nas nuvens, mostrou-me que até o Sol perde, dançou enlaçada em mim e experimentei a entrega, encontrei sentido onde antes nada enxergava, porque o vazio fazia-lhe sentido, como quase tudo no mundo. Conduziu-me aos corais de marfim beijando meus cabelos. Quando quis estar somente com a companhia de estrelas afogadas, ela me ofereceu em troca uma de suas conchas de sal, por o tempo que se dissolva ou trinta e oito segundos de boca livre nas suas costas.
Às vezes é menina, ainda não me acostumei com seus carinhos, ela não acredita que o meu desejo de estar dentro, não é maior do que o meu desejo de estar dentro de seus olhos. Há horas que sinto que o Mar está perto e a maresia está a flutuar em partículas no vento, como miragem do olfato.
Como eu havia dito. Um dia ela me deu a mão no escuro, e eu também lhe dei a mão. Enfim já não sabíamos quem conduzia quem, e mesmo assim encontramos a saída.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A tribo de dois.


Todo mundo quer ter dinheiro.


Isso é fato. Hipócrita quem diz que não precisa e não quer ter dinheiro.


O importante é saber quem você vai ser depois do dinheiro. 


Quero ter dinheiro e estou batalhando todo dia pra isso, porque eu quero ter liberdade, não quero dinheiro para ostentar e consumir desesperadamente.


Minha liberdade está em aprender varias línguas, conhecer outras culturas.


Construir um espaço cultural no Recanto das Emas ou em Samambaia, ou em Santa Maria no DF.


Uma escola profissionalizante em artes, filmar meus vários roteiros sem precisar de dinheiro público.


Fazer cursos no mundo inteiro, de teatro, dança, música, cinema, pintura, escultura, desenho.


Conseguir a guarda conjunta da minha filha e participar mais ativamente da sua educação, passar mais tempo com ela e explicar porque o céu é azul, porque o catchup é vermelho e a mostarda é amarela.


Ajuda-la a cuidar do cachorro, ficar na piscina a tarde inteira, brincar de guerra de mangueira, sair pra comprar colar de miçanga e pulseira de couro, andar de trem, avião, cavalo, navio, charrete, caiaque, canoa, pedalinho, helicóptero, bicicleta e kart.


Fazer filme, teatro, capoeira, música, dançar no domingo depois do almoço, ver o sol se pôr na Grécia e dormir ouvindo o barulho do mar em algum lugar do Atlantico ou do Pacifico.

Vivemos em um país que não ganhamos o justo pelo serviço que prestamos e nem recebemos de acordo com os reajustes da economia.


Sem generalizar, viramos reféns de bancos e administradoras de crédito, arranjamos dois ou três empregos e bicos e funções extras e não temos mais tempo de estar com as pessoas que amamos e necessitam da nossa presença.


não podemos largar tudo e viver mais perto do Mar, porque não somos livres, sem generalizar.

https://youtu.be/NUTQjeJKo6I

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Acordado e vendo...

Acordei com alguém assobiando a melodia de carinhoso e lembrei que ontem não ganhei na Mega Senna.

Fiquei alguns minutos pensando sobre o que eu faria com os 26 milhões, depois liguei o recurso de soneca no meu celular Sony Ericsson W200.

Que merda de celular. Só o que presta nele é o walkman, até a função soneca dele é terrível, são só oito minutos, como passa rápido oito minutos.

Para cumprir sua função de despertar deves colocar um toque bem desesperador se não você não acorda, me lembro quando o toque do despertador do meu celular era Cartola... 

"...Alvorada lá no morro que beleza ninguém chora não a tristeza ninguém sente dissabor"...

Eu não acordava. Como explicar pra minha chefe o atraso.

- Olha chefe, o despertador tocou Alvorada do Cartola, não deu pra acordar, essa música é pra sonhar, e não para despertar.

Ando calado, cada dia demoro mais pra levantar, acho que Brasília ta ficando apertada pra mim.