O filme às cinco da tarde é uma obra prima, o olhar de uma mulher (Samira Makhmalbaf) Contando a historia de outra mulher castigada por um sistema político cruel, sangrento e insano. Lugares como o Afeganistão, onde o filme se passa, me dão a impressão que ali, “até Deus morreu”. Não sou cético, não são palavras minhas. Só que às vezes vejo muito mais esse Deus em algumas mulheres, no amor que sinto por elas. Depois do filme deu-me vontade de pedir perdão para todas as mulheres que fiz sofrer, que deixei, que não as amei como deviam ser amadas. Queria poder dizer que não fiz por mal, é o desespero de fazer a diferença que me consome, não é por vaidade, mas pra melhorar a qualidade de vida a minha volta.
Lembrei de uma feminista que conheci em uma noite que nunca teve fim pra minha alma que ainda deseja amá-la como se fosse minha ultima chance. Seu jeito de encarar as coisas, que para muitos parecem simples e a sua fidelidade aos seus ideais. Mudaram a imagem estereotipada que tinha das feministas, o toque suave da minha boca na sua pele rosa, ainda me fazem sentir como se tivesse cinco metros de altura e fosse invencível. Alem da minha filha, Ela era a única pessoa que gostaria de abraçar e ver esse filme, nesse domingo só, como os abrigos improvisados do Afeganistão.
Espero que Deus esteja vivo.
Às cinco horas da tarde
Federico García Lorca
Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já pelejam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro todo coração ao alto
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando de iodo se cobriu a praça
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.
Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido
às cinco horas da tarde.
Por sua frente o touro já mugia
às cinco horas da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.
Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco horas da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde em sombra!
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