segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SEM LAR

Os olhos queimam perto das encostas das marginais, a condição que nos encontramos é confortável se não precisamos nos ver e os que desistiram estão a seguir as linhas que cortam a cidade, não têm dono, não esperam, matam o tempo, para o tempo não os matar.
Os cães farejão o meu rastro indeciso, mas o caos da minha alma me mantém vivo nesse cotidiano insano. Vivo o dia e a noite me vive, a cidade é adaptada, é relativa. Os pensadores não se acham aqui, confusos no amontoado de dores. Os pássaros, os olhos, a janela, a calha, a sombra, a rua, a sede, a amada, a mesa, a luz, o peso.
Senhoras e senhores os inquietos estão cada vez mais sossegados e eu perdi o direito de admirá-la, porque ela já não é, mas admirável. O hotel, a cama, o calor na base da espinha, o descontrole e suas teses cheias de especulações vazias e sua covardia me empurraram para braços alheios e meu pau abandonado sem casa, não volta, não quer mais voltar. Encontrei a explosão do fluxo das minhas idéias materializadas nos meus fluidos. A cada estocada profunda e quente encontro um novo lar a minha altura, esse purgatório é cômodo por algum tempo, mas eu sei o caminho.

2 comentários:

  1. Adorei o texto!
    Muito bom!
    E quanto a estar SEM LAR, não acredite nisso...
    Aonde quer que estejamos sempre acharemos um ponto que nos fará estarmos em nosso lar!
    Apenas, Curta!

    Beijooss

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  2. teu pensamento descrito é de enorme sensibilidade!!!

    o discurso mesmo subjetivo, reforça e marca tua vivência 'experimentada' em um lugar estranho, relativo à energia e à complexa relação entre viver e estar.
    tuas palavras me levam a lembranças comuns, pois mesmo inimigas do rigor e da precisão, me fazem referências ao que vivi naquela maravilha de cidade.
    "vivo o dia a noite me vive"... mesmo mortos, todos vivem, todos tem alma, lembranças... vamos brindar!!!
    um brinde a vida, ao incondicional, a SUA insanidade, e a NOSSA insanidade, que contribuiu para fortalecer vínculos...sem ela não haveria ritual...

    vamos?
    vamos perder o contato com a realidade?

    "louco quem pensa que é normal"

    parabéns pelas palavras!!!
    adorei, passou um filme agora!!!

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