Conectado com a madrugada espero o dia para testemunhar a mudança das cores, a chegada da luz e o meu reflexo dizem, quem eu sou hoje, e que mudanças ao de vir. Vento, calor, sol, frio, falta de sono e a vontade de não voltar confirmam que não tenho lar, dirijo sem a necessidade de ir a algum lugar, na cidade alva mármore, de letras douradas e utopia. Meus amores tortos e minhas paixões seletas convidam-me para um passeio no mundo e a pequena de olhos negros que sempre no domingo vai embora e deixa-me o vazio sereno, uma vontade súbita de dormir, de beber, de sumir, de não trabalhar no dia seguinte, de me encontrar de novo com minha essência, de voltar até o começo da minha vida pra descobrir onde perdi minha ternura. As cartas que me fizeram continuar e os sabores que para conseguir separar no mesmo prato e experimentar um de cada vez, tive que romper com a urgência que me estrangula. Achei que podia suportar o frio e descobri que do frio eu nada sei, um apartamento vazio, um colchão, água e música. Eu, o homem que não vê vazio nos encontros rápidos, e a felicidade, de saber que a Negra que tantas vezes me apaixonei encontrou a paz.
As catástrofes da nossa alma nem sempre levam por completo a nossa beleza, continuar é sempre a melhor opção. As magoas que me presentearam agradeço, mas não consigo conviver com as magoas que causei, vou ficar aqui, comigo, assim sou mais útil, impossível não causar impactos, mas que sejam brandos, não quero mas a evidencia da transformação alheia.