quinta-feira, 23 de julho de 2009

Transformar.


Conectado com a madrugada espero o dia para testemunhar a mudança das cores, a chegada da luz e o meu reflexo dizem, quem eu sou hoje, e que mudanças ao de vir. Vento, calor, sol, frio, falta de sono e a vontade de não voltar confirmam que não tenho lar, dirijo sem a necessidade de ir a algum lugar, na cidade alva mármore, de letras douradas e utopia. Meus amores tortos e minhas paixões seletas convidam-me para um passeio no mundo e a pequena de olhos negros que sempre no domingo vai embora e deixa-me o vazio sereno, uma vontade súbita de dormir, de beber, de sumir, de não trabalhar no dia seguinte, de me encontrar de novo com minha essência, de voltar até o começo da minha vida pra descobrir onde perdi minha ternura. As cartas que me fizeram continuar e os sabores que para conseguir separar no mesmo prato e experimentar um de cada vez, tive que romper com a urgência que me estrangula. Achei que podia suportar o frio e descobri que do frio eu nada sei, um apartamento vazio, um colchão, água e música. Eu, o homem que não vê vazio nos encontros rápidos, e a felicidade, de saber que a Negra que tantas vezes me apaixonei encontrou a paz.
As catástrofes da nossa alma nem sempre levam por completo a nossa beleza, continuar é sempre a melhor opção. As magoas que me presentearam agradeço, mas não consigo conviver com as magoas que causei, vou ficar aqui, comigo, assim sou mais útil, impossível não causar impactos, mas que sejam brandos, não quero mas a evidencia da transformação alheia.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sonho, história ou estrada?


Observo as pessoas, a sociedade, as cenas do cotidiano, quando realmente paramos para observar da pra perceber a missão de cada um. É preciso  perceber. Onde as pessoas estão indo?
Hoje uma cena me marcou, enquanto esperava dentro do carro na plataforma superior da rodoviária de Brasília, uma mulher limpava o chão da rodoviária acompanhada por seus dois filhos, dava pra ver a expressão foda que eles tinham no olhar, dava pra ver na cara a dignidade que a mãe ensinou. Pensei em um filme, pensei neles daqui a dez anos e vi uma possibilidade, vi uma saga, vi um livro. Mulher raçuda dá sempre uma boa história, é lindo, e sempre me encanta.
Quando comecei a estudar interpretação, direção, teatro, cinema, a primeira coisa que aprendi foi a observar. Observar é uma arte, Quando observamos adquirimos cultura, ampliamos nosso repertorio imagético, gestual, surgem possibilidades e criamos histórias, muitas histórias e nem todas vamos conseguir contar.
A foto que ai está tirei na volta de uma viajem ao sul da Bahia, tirei a foto com o carro em movimento sem preparar muito o foco, a luz ou a velocidade da câmera, mas conseguia ver a imagem e ela ficou exatamente como imaginei, eu sabia que jamais veria aquela menina, sentada na frente da casa do lado da estrada, mas sabia que ela seria uma história, uma história que eu conheceria e as histórias não morrem, filmes e discos queimam, quebram, dissolvem-se, as histórias são para sempre. Isso foi há dez anos atrais.