Minha Febre passa no tempo das nuvens que se movimentam, parece o mar sobrepondo o mar, que sobrepõe outro mar, que Deixa atravessar a luz que suave invade a janela, Igual seu beijo doce, que termina com a mordida que me acorda e sua mão embreada nos fios ressecados de meu cabelo, fecho de novo os olhos.
Achei que nossos pés iriam incendiar o mundo e que suas cochas alvas me matariam três vezes ao dia e nelas adormeceria e recomposto beijaria a Tulipa que não morre com o calor do Sol que tenho na língua, e o tempo, que mata devagar as folhas deitadas no chão, teria o mesmo ímpeto de vida que adentro na festa que acontece na sua alma quando a tua dor passa. Não quero ver-te sentindo dor. Sou só vento penetrando seus cabelos, tão forte quanto o desejo dos meus lábios de percorrer suas costas, como se pudesse curá-las de algum mau.
Sem água, de boca seca e salgada, deixo você ir, e se você volta, impetuosa e embriagada de mim. Com certeza andaria com você, sem pressa, no campo perdido dos sonhos ácidos e beijaria seus cílios, raros como as penas das asas de um pássaro, arquitetadas pra voar.
Nunca perguntei qual é o seu sonho. E eu continuo, na poeira clara e seca, apodrecendo sob o Sol de Brasília, perdido nesse mar de Tulipas.
Legenda da imagem: Tulipas Negras 2 - Oleo sobre tela - Isabel Cristina Pereira Vono