quinta-feira, 21 de outubro de 2010

GAIVOTAS

Quero fazer uma confissão esta noite
porque a noite e a rua foram jantar juntas.
Quero dizer que amo uma mulher
cujo corpo não me dá
o seu calor esta noite,
cuja ausência é um ronsel laranja.
Quero dançar com minha sombra
para que o seu rumor chegue até ela
e ela saiba que eu lhe dou a noite,
toda senhora.
Quero escrever coisas que não se esvaeçam
com o sol,
que a chuva as faça flores
que cheirem a ela.
Quero que as minhas mãos voem,
voem em silêncio
onde ela guarda os seus sonhos...
sonhos que me pertencem
porque eu lhe pertenço.
Quero que ela fique, fique sempre,
quero ser a sua voz
quero ser o seu sorriso verde,
quero ser a sua chuva no cabelo,
quero amá-la mais do que ninguém
ama ninguém.
Quero dizer-lhe, aqui e agora, que a amo
com a minha voz baixa,
com o meu ar de outono lento,
com o meu sabor de beijos possíveis.
Quero que os pássaros sejam
os meus mensageiros de saudade.
Quero que o mundo comece quando ela vir.
Quero sonhar acordado com o seu tato entre as
minhas mãos
a percorrer ela em silêncio o meu peito
e acordar com ela junto de mim,
calada e doce.
Quero só eu dizer-lhe sentimentos
que aceleram o coração,
o seu coração apaixonado,
eu gosto da sua timidez.
Quero nadar na sua boca sem horizontes.
Quero os versos todos do planeta
a falarem dela,
versos curtos de violetas, versos firmes de cravos, versos perfumados de rosas.  Quero suster os seus pés no ar
e trazer ao seu peito gaivotas fiéis
que sempre deixam pegadas na praia.
Quero ser eu no seu corpo da alva ao sol-pôr, de lua a lua de eternidade a eternidade.
Quero amá-la até o meu último alento.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Inimigo

Questionam a educação e alimentam o filho pródigo nem quando a noite cai, os ânimos baixam. É quente e a guerra explode lá fora.
É, temos que fazer a coisa certa, tanta gente que foi embora quanto fantasma e há tempos meu instrumento está encostado. Explode algo dentro do sujeito que dizia amar a todos. Pra mim explode quando tô dentro de você! Sem hipocrisia! Sem covardia! Vestem a camisa da paz e apunhalam o irmão pelas costas. Pelo misero e mínimo rolê nas estrelas, por isso digo: você é a minha erva, minha bebida mais forte. Inimigo número um? Do amor? Da saudade? Da liberdade? Da solidariedade?... Não podem matar a todos! E você ta tão longe. Que poder? ... Poder é o que a gente pensa! Tudo isso não tem nada a ver com controle, esse mesmo que só permite monólogos a sociedade. E de olho por olho acabam todos cegos... correndo em círculos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PARA A PEQUENA MARIA

















Não havia nenhuma testemunha no dia que entreguei minhas armas e dancei com um anjo.

No dia que chorei, porque estava cansado de mais pra lutar.

Vou levá-la a um lugar que tenha muitas árvores, e que em uma ou duas, possamos confiar, deitar em sua sombra e dormir.

Outras possamos ser cúmplices e de vez em quando tirar uma fruta para comer e brincar de Pique-esconde, e em cima delas, desaparecer.

Não um desaparecer de verdade, igual de quando eu escondia os olhos e perdia a consciência.

Um desaparecer igual de quando você entrou debaixo da cama, pra fugir do silêncio.

Não precisa ter medo, a gente ainda pode cantar. E existe também o silêncio bom.

Eu vou chegar à noitinha, e só hoje você pode dormir um pouco mais tarde.

Eu te empresto meus sonhos. Até você ter os seus, e mais tarde posso te dar alguns, se você quiser e se couberem nos seus sonhos.

É tarde! Vou dormir agora, na lua que vamos morar um dia, ouvindo os sons de suas brincadeiras.

Amanhã vai ser um dia cheio. Precisamos ir à praia, andar de avião, comprar um cachorro amigo e um colar bem comprido de sementes.

Tem uma nova peça de uns amigos, que fala de criança, Se você não dormir, a gente vai.

Peixinho dourado? Não sei. Passarinho tem que ser livre, claro! E se fizer sol, a gente abre a capota sim.