Desceu do avião meio bêbado por causa das três doses de wisk que bebeu no vôo, Rio de Janeiro, Brasília. Suspirava com dificuldade, devido à mudança brusca de pressão atmosférica. Passou direto pelas esteiras, só trazia consigo uma mochila. Anestesiar a alma é muito bom, mas ele já sabe como isso termina, pensa que deveria ir pra casa, mas resolve beber mais um pouco. Ir pra casa agora nesse momento, seria como ficar enclausurado de novo em um avião. Pensa nas suas escolhas, no cartão de credito que vai vencer, no IPVA, na filha, sente um pingo de carência, anula. Aprendeu desde pequeno que carência é para fracos, mas sabe dos estragos que uma noite de peito vazio pode causar. Já no táxi pensa nas coxas dela e como seria bom transar com ela no banco de traz de um táxi em movimento, depois repensa e acha que ela não toparia tal aventura. Só quem pode salva-lo nessas horas, que quer colocar tudo que sente em um copo com muito limão e um pouco de gelo, e beber tudo de uma vez, é ela. Ele pensa em telefonar, mas desiste, sabe como anda arredia e acredita que um movimento em falso poderia afastá-la para sempre, ele não quer isso, mais também não quer deixar de viver essas sensações e sentimentos com ela, que são fortes como o inicio do mundo. Ele percebe que quando ela toca seu cabelo, é como se ela quisesse penetrar na sua pele, conferir a textura, encostar-se ao seu peito e suave beijar seus olhos, sentir o abraço cheio de Sol e dormir quase uma vida inteira nos seus ombros de nuvem. Ele entende como é difícil para uma mulher entrar nesse furacão que é sua alma e na tempestade que são seus pensamentos, mais ele confia que ela tem coragem pra sentir o que nunca sentiu. Que ele vai encontrar a paz, e ela achar o caminho. Enquanto descia do táxi e se encaminhava para o bar de costume, carregando sua mochila nas costas, lembrou de um filme dos anos 90, que a partir da história de um casal de assassinos em serie, o diretor falava de todas as pessoas do mundo, que tem medo de viver com intensidade, que planejam cada segundo, não tiram o plástico do banco do automóvel novo e que não sabem fazer sexo oral em uma mulher. Chegando ao Bar foi direto ao balcão, como já era velho conhecido ali, pode deixar sua mochila no armário, usado para guardar os pertences dos funcionários. Lembrou de quando acordou, hoje mais cedo num quarto de hotel em Ipanema. Levantou, olhou no espelho, gostou da sua aparência, inclusive do cabelo do jeito que estava, vestiu-se e saiu. Mas antes de sair, lembrou de deixar um bilhete de despedida, para turista de Curitiba que conhecerá no restaurante do hotel na noite passada. Quando você deixa um bilhete para uma mulher que dormiu com você em uma transa casual, nunca agradeça, ou ressalte os atributos sexuais da garota, ou seu próprio desempenho na cama. Um bilhete de despedida de uma noite furtiva tem que fazer alusão ao mistério, fazer com que a senhorita sinta-se especial e se quiser realmente um reencontro deixe seu telefone e seu e-mail. Assim a donzela não sentiria que foi comida e abandonada em um quarto de hotel. O bilhete dele falava algo sobre os olhos dela olhando diretamente para os dele, enquanto ela por cima movimentava-se suavemente controlando a penetração, até o orgasmo simultâneo. Deixou seu telefone e e-mail, pediu um café reforçado e convenceu o garçom a arranjar uma rosa branca. Olhou mais uma vez para as pernas brancas e iluminadas que escapavam aos lençóis dourados de seda, pensou em como seria bom acorda-la com beijos quentes, totalmente aconchegado dentro dela. Analisou se valia à pena perder o avião, deixou ao destino e saiu. Voltando seus pensamentos para o presente, pediu uma cerveja, encaminhou-se para frente do estabelecimento onde em um pequeno palco a banda tocava Paralamas, uma olhada e logo recebeu um sorriso doce. Pensou no dinheiro que deixou de ganhar na licitação que participou para o governo do Estado do Rio de Janeiro, refletiu que esse mês teria que economizar. Seu telefone toca, não é ela, só alguém pela qual sua alma não treme. Se pelo menos ela ligasse, ele vai até o balcão já está escurecendo, ele não precisa mais dos óculos escuros, coloca na mochila e entrega para o caixa colocar de volta no armário, puxa o celular do bolso, decide de novo não ligar, mais uma vez o destino, ele confia no destino, o destino providencia tudo, joga o celular na mochila. Ele não queria invadi-la, pra não sufocar, pra não maltratar, pra não apagar a imagem bonita que ela tinha dele. E se o destino não resolver? Ele acredita nos recados que as pessoas nos dão, que as pessoas querem que nos percebamos, se ela não liga, ela não quer que você ligue, se ela não faz questão de te encontrar é que ela não quer que você tente encontra-la. O destino pode não resolver. Ele quer ser discreto, quer do seu lado quem realmente quer estar com ele. E se ninguém quiser estar com ele? Ele pega mais uma cerveja, decide sentar longe da menina que sorriu pra ele, confirma que hoje não seria uma boa companhia. Velhos amigos juntam-se a ele na mesa, um pouco de tequila. Ele já sabe como a noite vai acabar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Pra você. Achei bem legal sua crônica.
ResponderExcluirEu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou.
Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes.
Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia.
Mas você tem que remar também. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser à toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar.Re-amar. Amar.
Beijos, boa noite e se cuida.
Odorei o texto, simplesmente desbancou minha crônica, rs rs.
ResponderExcluirobrigado, bom dia, eu me cuido sim, vou tentar.
Oi.
ResponderExcluirLer seus textos me faz pensar em muita coisa... Gostei de todos, em especial este. Foi forte. Grosseiro, mas ao mesmo tempo delicado... Enfim, foi escrito por você.
Beijos,
J.S
PS.: Te adoro.