quinta-feira, 25 de junho de 2009

O PREGO


Não dá pra parar, sinto vida solida percorrendo meu corpo, preciso andar, a janela aberta, a cidade Utopia mostrando seu espetáculo, o carro parece mais confiável e confortável quando não temos opção, há não ser viver na velocidade que nos foi ensinada, a velocidade de quem tem sede de viver. Uma vez tive um sonho que enquanto dirigia o motor do carro esquentava e saia fumaça pra todo lado. Então uma pessoa interpretou este sonho e concluiu que era uma projeção do meu stress no carro, como se eu fosse o carro e estivesse esquentando e saltando fumaça pra todo lado, ou seja, no limite.

Quando acordei fiquei olhando quase vinte minutos para um canto da parede, buscando forças, levantar e seguir. Quando fui até o carro percebi que o pneu estava vazio, logo descobriram que um prego de sete centimetros alojara-se na borracha e de pouco em pouco liberava o ar, esvaziando o pneu vagarosamente. Pensei um pouco e fiz uma projeção, analisei, e ao final cheguei à conclusão que o prego sorteado, uma agulha no palheiro, depois de anos sem furar uma única vez o pneu, achava até estranho quando via os carros parados nas ruas e as pessoas trocando o pneu, eu me perguntava: Porque meu pneu não fura? Não sabia nem onde estava o macaco. Mas voltando ao prego, na minha projeção analítica Semiológica espírito sensorial, conclui que o prego queria me dizer pra ir um pouco mais devagar, ninguém consegue tanto tempo tão rápido, não dá pra ler as placas, não dá pra ver as pessoas que passam e não dá pra voltar, vem gente atrás na mesma velocidade na mesma urgência e nem sempre a sorte está do nosso lado.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Crescer

Machuca de Andrés Wood, faz uma sensível analogia das historias em quadrinhos americanas de O Zorro, O cavaleiro solitário e o indio Tonto, seu amigo e companheiro inseparável de aventuras no velho oeste americano. Que viria a ser um famoso seriado de TV, no mundo inteiro.

Andrés Transporta a saga do cavaleiro mascarado para o ano de 1973 e contextualiza com a historia de Gonzalo Infante (Matias Quer) e Pedro Machuca (Ariel Mateluna). O filme retrata fatos históricos do Chile, país com a maioria da sua população indígena.
Um dos personagens é vidrado nas aventuras de Zorro e Tonto, e com a abertura do caro e sofisticado Colégio Católico San Patrick, para estudantes bolsistas de baixa renda. Quando inicia-se a amizade conturbada dos dois garotos, um índio e o outro pertencente à elite chilena. Destaque para a personagem solida, politicamente lúcida e leal ao partido socialista, interpretada incrivelmente pela atriz Manuela Martelli, que em certo momento afirma, que seria impossível existir uma amizade entre um homem branco e um índio, em critica a historia de Zorro, O cavaleiro Solitário. Enfatiza assim o conceito principal da película. 

Fiquei pensando nas nossas posições políticas, e me imaginei no ano de 1964 no Brasil, em plena forma para tomar uma posição politica, agressiva e radical, exercer meu livre arbítrio. Analisei a sociedade que vivo hoje. Fui dormir triste, lembrei do momento em que descobri que não existia justiça. Eu tinha 11 anos, decidi que faria minha parte, tudo que fiz e aprendi carreguei comigo o dever de repassar para os outros, capoeira, teatro, cinema, multipliquei. Mas parece que a diferença que achei que podia fazer, é menos que mínima, a posição política de hoje é ter. Estou sozinho tentando ser e sentir. Talvez em 64 eu não fosse tão sozinho, eu e meus sonhos. Talvez hoje seria eu, mais um retrato na camisa de uma mãe, lutando por justiça ou em um cartaz de  presos políticos desaparecidos, ou brigando em tribunais por anistia. Tenho 34 anos, tenho muita energia, tenho uma pequena dos olhos mais incríveis do mundo, que é meu partido político é minha posição ideológica, minha meta é deixar para ela, algo que as celas úmidas da ditadura de Pinochet e do DOICODE brasileiro, não podiam tirar de um homem, e ainda não podem, educação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mais uma sobre mulheres.

Existem mulheres que não tem tempo para serem fracas, vão caminhando, vão mantendo a ternura, o sorriso claro sem tempo para hipocrisias ou mentiras, a meta é colecionar sentimentos nobres eles valem mais pontos, nos dias difíceis. Primeiro os filhos, depois a pele, diz sim se for intenso, porque a boca é qualquer coisa entre o céu e a terra. Serenas, falam pouco, ouvem mais, a tonalidade e o brilho das peles refletem a saúde, tudo cheira bem, aconchego para os que voltam pra casa. Vou vivendo, esperando, abraçando, respeitando o tempo, aprendendo a educar, criar, amar, pra ela me admirar, vou desejando bom dia, boa tarde, boa noite, deixo-a entrar, vou embora quando chega minha hora, tenho varias músicas pra mostrar e alguns meses pra partir, quero levar essa qualidade de vida pra manter-me vivo quando estiver longe, em um lugar frio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Às cinco da tarde.





A estrada acordou primeiro, e a reflexão me manteve alerta quase toda noite como se tivesse que me manter vivo por um processo de transfusão de força de vencer, como se a segunda fosse o começo da minha vida, como se na segunda tudo pudesse melhorar, na segunda tudo seria perdoado e esquecido. O som dos caminhões frenéticos cortando a artéria da cidade, despertam-me, de outro lugar que estive enquanto não dormia, um lugar onde o Sol brilha mas não esquenta, nem corpo nem alma, nada cresce, o leite não brota nas mulheres e os animais morrem de sede. Quando abri os olhos cheios de dor, mas uma dor que só enche-me de vontade de mudar o mundo. Percebi que tinha me transportado para o filme que assiste na tarde melancólica de domingo, em que a TV tem a insistente função de te anestesiar e te conduzir à silenciosa e casta rotina.

O filme às cinco da tarde é uma obra prima, o olhar de uma mulher (Samira Makhmalbaf) Contando a historia de outra mulher castigada por um sistema político cruel, sangrento e insano. Lugares como o Afeganistão, onde o filme se passa, me dão a impressão que ali, “até Deus morreu”. Não sou cético, não são palavras minhas. Só que às vezes vejo muito mais esse Deus em algumas mulheres, no amor que sinto por elas. Depois do filme deu-me vontade de pedir perdão para todas as mulheres que fiz sofrer, que deixei, que não as amei como deviam ser amadas. Queria poder dizer que não fiz por mal, é o desespero de fazer a diferença que me consome, não é por vaidade, mas pra melhorar a qualidade de vida a minha volta.

Lembrei de uma feminista que conheci em uma noite que nunca teve fim pra minha alma que ainda deseja amá-la como se fosse minha ultima chance. Seu jeito de encarar as coisas, que para muitos parecem simples e a sua fidelidade aos seus ideais. Mudaram a imagem estereotipada que tinha das feministas, o toque suave da minha boca na sua pele rosa, ainda me fazem sentir como se tivesse cinco metros de altura e fosse invencível. Alem da minha filha, Ela era a única pessoa que gostaria de abraçar e ver esse filme, nesse domingo só, como os abrigos improvisados do Afeganistão.

Espero que Deus esteja vivo.


Às cinco horas da tarde

Federico García Lorca

Às cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte

às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando de iodo se cobriu a praça

às cinco horas da tarde,

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido

às cinco horas da tarde.

Por sua frente o touro já mugia

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

Ai que terríveis cinco horas da tarde!

Eram as cinco em todos os relógios!

Eram cinco horas da tarde em sombra!