terça-feira, 11 de outubro de 2011

Passos do matador


Para meu avô, Oswaldo. Que encontrou o amor, no momento em que desistiu da guerra.

Ouço os passos do matador, coragem, verdade, honra. Jamais olhar pra trais. Ser mais forte que o ódio, achava que nada podia ser mais forte que o ódio.
Da simplicidade e de todo rompimento com o ódio é que nascem os mais lindos artistas.
Sobreviver, vencer, perder, sempre me faz forte.
Acima o céu é azul, tudo aqui é cinza, mais não menos belo, os caminhos secos e de terra, e sempre temos que escolher para que lado seguir.
Quem nasceu primeiro a beleza ou o amor?
E sobre voar?
Seria tão simples se fosse mais leve, mais sóbrio, mais falho.
Isso porque amamos almas que dançam, sorrisos que ecoam música.
E se todos tem uma sina, que essa seja prazerosa e gloriosa.
E que seja breve a cegueira dos homens de coração duro, que não mudam quando cai a chuva.
Chumbo quente dilacerando seus corpos, Caatinga e sangue, separando, desarmonizando.
Aprenderemos com nossos antepassados, ouçam os passos dos matadores de tempos passados.
– Com um olho virado para o chão e o outro virado para o Sol, matei meu irmão, e acabei cego.
Agora, só ouço o mar, não ecos e passos. Só o mar.



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

EU

Quem sou? Sou as horas, o seu medo de entregar-se a mim com a coragem das valquírias, sou o vento seco e leve que racha os lábios e mesmo assim é bom. Sou essa tua alma, vestida de corpo, a inspiração, o desejo de matar a sede no seu leito e adormecer nos seus seios, sem pressa, sem jogo. Sou caminho, chuva doce, suor queimando ao sol, sou a explosão na sua barriga, a ansiedade das borboletas.
Mas não me deixe só, com os heróis exaustos, à folhear Dostoiéviski, em bancas de revista na W3 Sul.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

No fundo dos olhos, na maciez dos Lábios


Serena, complacente das horas, estreita relação com a brisa de agosto que limpa seus olhos. Devoradora de sonhos, andante sob a espelhada Lua, na famigerada madrugada de desencontros silênciosos, que maltratam as possibilidades de amar com a intensidade Dionisíaca. O mundo anda em círculos no vácuo da saudade desenfreada dos beijos que não te dei. Você anda na contramão dos selvagens burocratas, sedentos pela beleza mercadológica. Bela como a insensatez das borboletas que só vivem 24 horas, descrever seu sorriso, é tão mais difícil que viver de arte e os poetas bêbados dos bares das esquinas da Barata Ribeiro, soltos no tempo, vivem o sonho de bocas douradas como a sua, não vivenciam a poesia, perderam-se no sentido das palavras que já não trazem de volta os amores impossíveis. É Severa a rotina, apaga pouco a pouco sua linda fisionomia da memória da minha alma, insisto reviver os lábios imponentes para ter força pra continuar o ascendente caminho de gloria que às vezes é cansativo sem você. Em tempos que não sobra espaço pra sensibilidade e humanidade, medo não conheço. Confio no instinto que me trouxe até aqui, o que sinto e penso me mantêm vivo. Esse incansável Céu todo azul deixa-me perplexo, embreado em seus cabelos, embriago-me de seu cheiro excitante, estonteante. Síndromes urbanas e descompassados automóveis, que cruzam as avenidas como veias expostas, não me deixam nem um pouco cansado, tenho muito fôlego pra você. Deixo as estrelas impregnadas nos meus braços pra te proteger, dos que cobiçam seus lindos olhos de mel, mas que não têm coragem suficiente para saciar sua alma. Vem comigo, quero te mostrar o lugar que eu nasci, a árvore que eu me escondia. Deixa o mundo pegar fogo, enquanto os anjos se esfolam, descobri um caminho mais curto para o mar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O DIA QUE NASCI DE NOVO


No dia 04 de agosto de 2005, às 20 horas, eu nasci de novo. Nesse dia conheci Maria, vi nos seus olhos o mundo que eu ainda não conhecia.
Precisei voltar começar tudo de novo, encontrar sustentação para minha ideologia, me livrar de idealistas sem fôlego, manter distancia de quem me sufoca, para poder viver de novo minha primeira infância, crescer de dentro pra fora. Tirar o atraso da alma, descobrir em que momento da vida a dor me fez perder a ternura, não ser a metade que os outros fizeram de mim, pra que a minha metade contamine e tome conta do resto.
Enfrentei os monstros que recebi como herança que todo dia me comiam um pedaço. Fiz o que quis, não parei pra tomar água, magoei muita gente, abri mão da companhia dos que vieram aqui só pra perder. Descobri que os arrogantes não tem talento e que não valem a pena dividir uma cerveja, o palco, a cena.
Andei por aí, pra viver de cinema, utopia, socialismo puro e mar. Andei, para lembrar de quando fui realmente livre.
Experimentei a felicidade de verdade no abraço quente de Maria. Sinto que chego na fase adulta, minha filha me ensinou tudo.



ONDE NASCEM OS SONHOS?

Vídeo realizado no primeiro ano de vída da minha filha. Motivado pela emoção de ser pai pela primeira vez e inspirado no livro, “Por uma outra Globalização” do grande geógrafo e cientista brasileiro, Milton Almeida dos Santos, o Milton Santos, que me fez pensar em um mundo mais justo pra minha filha que acabará de nascer.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

CARPINEJEAR

Esta noite demorei a dormir, rolava na cama pensava na ira, queria encontrar um sentido, Deus me presenteou com essa alma por um motivo. Canalizar, explorar o dom, deixar fluir as possibilidades, da característica mais forte do meu Orixá.

Dormi e sonhei com o Sr. Carpinejar. No sonho estávamos eu e Fabrício em praça pública apresentávamos uma instalação, uma intervenção urbana, me recordo de interagir com a obra, assim como as outras varias pessoas presentes. Eram parafernálias de metal dinamizadas mecanicamente, instrumentos que pintavam e criavam poesia, animais de madeira de vários tamanhos e formas que se encaixavam como engrenagens, representavam as necessidades humanas e afetivas.

Enquanto isso uma movimentação burocrática acontecia, referente a uma autorização da administração do espaço que a intervenção urbana estava. Para piorar um grupo de pessoas que realizariam uma festa de confraternização no mesmo local, fingiam interessar-se pela obra de Fabrício. Aquela velha harmonia falsa, política, que as universidades ensinam muito bem para os ditos futuros lideres, muito inteligentes, mas sem nenhuma cultura, os mesmos que ajudam a manter a triste estatística de Pais com a média de meio livro lido por cada habitante, Maquiavel Diria, “unir-se ao inimigo, para conquistá-lo”. Eu simplesmente chamo de beijo de Judas.

Quando enfim, ficou confirmado que a nossa manifestação artística, era clandestina. Mas até ai, eu já tinha tentado convencer de todas as formas os alienados que as duas coisas poderiam coexistir, não tive êxito, impossível falar de Drummond, a ouvidos de Paulo Coelho, devoradores de livros de auto ajuda e apostilas de cursinho preparatório.

Passei a ajudar o colega artista, que só encontrará em carne e osso e acordado, uma única vez na vida, a guardar e desmontar os materiais e equipamentos. De repente me peguei observando os jovens, todos vestidos iguais, camisa gola pólo, sapatênis, cabelinhos politicamente corretos, iniciarem a montagem dos instrumentos e equipamentos de som, para começar o pagode, que tocam somente por hobby, para serem mais populares e realizarem o sonho de serem famosos e quem sabe até fazer uma novela. Voltei a minha tarefa, mas antes conclui como são tristes pessoas sem paixão e que elas nunca poderiam criar um movimento autentico. Lembro-me vagamente de ensaiar uma manifestação irada, quando ouvi uma voz se denominar sambista. Soltei uma frase, acompanhada de um leve sorriso irônico. Vocês não são Sambistas, vocês não sabem o que é um Sambista.

Acordei ainda com ira, mas entendi que a ira faz parte do pacote que aceitei, quando decidi viver do meu talento.

Resolvi escrever imediatamente, mesmo concordando com Vinicius de Moraes que dizia, “que se uma idéia que tivermos durante a noite ainda não estiver com a gente na manhã seguinte, é porque ela não vale a pena ser trabalhada”.

O computador não funcionou. Escrevi a mão no verso de um roteiro de curta-metragem que estou decupando. Estranho escrever a mão, parece que perdi a prática. Tenho que lembrar de escrever mais vezes a mão.     

terça-feira, 5 de julho de 2011

SUA ALMA É UM FURACÃO, SEUS PENSAMENTOS TEMPESTADE.


Desceu do avião meio bêbado por causa das três doses de wisk que bebeu no vôo, Rio de Janeiro, Brasília. Suspirava com dificuldade, devido à mudança brusca de pressão atmosférica. Passou direto pelas esteiras, só trazia consigo uma mochila. Anestesiar a alma é muito bom, mas ele já sabe como isso termina, pensa que deveria ir pra casa, mas resolve beber mais um pouco. Ir pra casa agora  nesse momento, seria como ficar enclausurado de novo em um avião. Pensa nas suas escolhas, no cartão de credito que vai vencer, no IPVA, na filha, sente um pingo de carência, anula. Aprendeu desde pequeno que carência é para fracos, mas sabe dos estragos que uma noite de peito vazio pode causar. Já no táxi pensa nas coxas dela e como seria bom transar com ela no banco de traz de um táxi em movimento, depois repensa e acha que ela não toparia tal aventura. Só quem pode salva-lo nessas horas, que quer colocar tudo que sente em um copo com muito limão e um pouco de gelo, e beber tudo de uma vez, é ela. Ele pensa em telefonar, mas desiste, sabe como anda arredia e acredita que um movimento em falso poderia afastá-la para sempre, ele não quer isso, mais também não quer deixar de viver essas sensações e sentimentos com ela, que são fortes como o inicio do mundo. Ele percebe que quando ela toca seu cabelo, é como se ela quisesse penetrar na sua pele, conferir a textura, encostar-se ao seu peito e suave beijar seus olhos, sentir o abraço cheio de Sol e dormir quase uma vida inteira nos seus ombros de nuvem. Ele entende como é difícil para uma mulher entrar nesse furacão que é sua alma e na tempestade que são seus pensamentos, mais ele confia que ela tem coragem pra sentir o que nunca sentiu. Que ele vai encontrar a paz, e ela achar o caminho. Enquanto descia do táxi e se encaminhava para o bar de costume, carregando sua mochila nas costas, lembrou de um filme dos anos 90, que a partir da história de um casal de assassinos em serie, o diretor falava de todas as pessoas do mundo, que tem medo de viver com intensidade, que planejam cada segundo, não tiram o plástico do banco do automóvel novo e que não sabem fazer sexo oral em uma mulher. Chegando ao Bar foi direto ao balcão, como já era velho conhecido ali, pode deixar sua mochila no armário, usado para guardar os pertences dos funcionários. Lembrou de quando acordou, hoje mais cedo num quarto de hotel em Ipanema. Levantou, olhou no espelho, gostou da sua aparência, inclusive do cabelo do jeito que estava, vestiu-se e saiu. Mas antes de sair, lembrou de deixar um bilhete de despedida, para turista de Curitiba que conhecerá no restaurante do hotel na noite passada. Quando você deixa um bilhete para uma mulher que dormiu com você em uma transa casual, nunca agradeça, ou ressalte os atributos sexuais da garota, ou seu próprio desempenho na cama. Um bilhete de despedida de uma noite furtiva tem que fazer alusão ao mistério, fazer com que a senhorita sinta-se especial e se quiser realmente um reencontro deixe seu telefone e seu e-mail. Assim a donzela não sentiria que foi comida e abandonada em um quarto de hotel. O bilhete dele falava algo sobre os olhos dela olhando diretamente para os dele, enquanto ela por cima  movimentava-se suavemente controlando a penetração, até o orgasmo simultâneo. Deixou seu telefone e e-mail, pediu um café reforçado e convenceu o garçom a arranjar uma rosa branca. Olhou mais uma vez para as pernas brancas e iluminadas que escapavam aos lençóis dourados de seda, pensou em como seria bom acorda-la com beijos quentes, totalmente aconchegado dentro dela. Analisou se valia à pena perder o avião, deixou ao destino e saiu. Voltando seus pensamentos para o presente, pediu uma cerveja, encaminhou-se para frente do estabelecimento onde em um pequeno palco a banda tocava Paralamas, uma olhada e logo recebeu um sorriso doce. Pensou no dinheiro que deixou de ganhar na licitação que participou para o governo do Estado do Rio de Janeiro, refletiu que esse mês teria que economizar. Seu telefone toca, não é ela, só alguém pela qual sua alma não treme. Se pelo menos ela ligasse, ele vai até o balcão já está escurecendo, ele não precisa mais dos óculos escuros, coloca na mochila e entrega para o caixa colocar de volta no armário, puxa o celular do bolso, decide de novo não ligar, mais uma vez o destino, ele confia no destino, o destino providencia tudo, joga o celular na mochila. Ele não queria invadi-la, pra não sufocar, pra não maltratar, pra não apagar a imagem bonita que ela tinha dele. E se o destino não resolver? Ele acredita nos recados que as pessoas nos dão, que as pessoas querem que nos percebamos, se ela não liga, ela não quer que você ligue, se ela não faz questão de te encontrar é que ela não quer que você tente encontra-la. O destino pode não resolver. Ele quer ser discreto, quer do seu lado quem realmente quer estar com ele. E se ninguém quiser estar com ele? Ele pega mais uma cerveja, decide sentar longe da menina que sorriu pra ele, confirma que hoje não seria uma boa companhia. Velhos amigos juntam-se a ele na mesa, um pouco de tequila. Ele já sabe como a noite vai acabar. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O RIO VELHO E OS BEBES ALADOS E DOCES

Ler você. Sensualidade, perturbação, Sonho, pureza. O Caos mais lindo, caos que transforma-se em Éden outrora. Tem dias que quero te abraçar por horas, e outros sair sem destino com você por ai, janelas abertas pra ver o Sol queimando no ar, ou até perseguir o rastro do seu cheiro estonteante, na Lua que ando em meus sonhos.
No radio Stones, andar depressa para ultrapassar o frio, diluir a madrugada no Bourbon sem gelo. Pensei ter visto o reflexo de seus olhos molhados no retrovisor, vertigem de quem gosta de ficar sozinho, conectar-se com o desejo, só se for de verdade, só se for o destino, que transforma mal, desprezo e medo, em tudo que já não faz mas nenhuma diferença. Toda dor terá fim, quando a maciez dos lábios for finalmente revelada, quando todo gozo for compartilhado generosamente, seu suor derreter a prata no meu peito e a angústia sutilmente nos tornará mais sábios, mais lindos e escorrera como areia de Rio velho nas pequenas mãos dos bebes alados e doces. Nos fará escrever, não nos deixará fracos, desprovidos e frágeis.
Acreditar na vida no que é eterno, no que nos deixa mais fortes para cumprir missões, que nos afasta dos patéticos de alma pequena que não sabem reconhecer e transformar um único, mesmo que mínimo instante, em quase tudo.
Minhas mãos precisam penetrar seus cabelos e trazer seu rosto pra perto do meu, e o vento suster seu olhar por quatro segundos, seu ventre ser minha casa, suas pernas estrada para o mar, seu grito de prazer, minha alforria.     

segunda-feira, 13 de junho de 2011

“ESTAR PERDIDO ÀS VEZES É CAMINHO”.


Falava com ela ao telefone enquanto esperava no aeroporto. Podia senti-la, ver seus olhos naquela voz. Aquele olhar de despedidas descabidas, de eternos, “Vou embora”. O olhar que embreaga, olhar que fulmina e só deixa espaço para desejos inflamáveis. Desejos inofensivos não interessam. Só minha língua explode, confunde as horas, desanda o ciclo dos lábios mágicos. A necessidade incontrolável de beijar a flor úmida, mais linda e cheirosa. Bebo o Merlot, saboreio vento, devoro ombros, caminho sobre folhas espelhadas que refletem a luz, e destacam os poucos e quase que imperceptíveis pelos claros, que cobrem a pele âmbar e alva da curva das costas. Rosados seios rosa. Minha boca faminta, desesperada pra sentir os sabores do Mundo todo. Perdido mais uma vez na cidade improvisada. Não tenho paz, nem oceano. Moças com seios implacáveis, que não têm nada a dizer, as bocas se movem, mas nada ouço. Só a voz dela ecoa na cidade destruída e encenada.
“- Estar perdido às vezes é caminho”.
- Ela disse.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

SABE POR QUE NÃO NOS ENVOLVEMOS COM PESSOAS DE TEMPERAMENTO SÓRDIDO?


SOU DOIDO POR ESTRADA E CONTEMPORÂNEO.  AMO MINHA LIBERDADE “E MINHA VERDADE PERSISTE ENQUANTO HÁ MAGIA”. NÃO FICO PRESO A CONVENÇÕES, ESTRUTURAS, LOBES, GENTE MEDROSA, SEM TALENTO, CARETAS, MAL AMADAS E DE TEMPERAMENTO SÓRDIDO. SOU FIEL AO QUE EU SINTO E VIVO CADA MINUTO DA MINHA VIDA COM SIMPLICIDADE, VERDADE, ARTE E BELEZA. QUERO VIVER NUM FILME DE TARANTINO, NUMA TELA DE DALI, EM UM TEATRO ABANDONADO, COM CENÁRIOS DE MARRAGONE E TEXTO DE VINICIUS DE MORAES.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Beija-Flor em alto Mar

Há alguns dias atrás quase fui baleado, quando representava um dos Projetos de Cinema que sou o responsável pela gestão, em um evento promovido pelo governo para encerrar as atividades de cultura nas periferias do Distrito Federal. Salvo por uma peça pregada pelo tempo (O bater das asas de um beija-flor). Quando já estava dentro do carro estava pronto para sair, direto para o aconchego da cama e ficar envolto pelas pernas quentes de uma bela mulher. Senti a súbita necessidade natural e divina, de livrar-me do peso de quatro cervejas de 355 mililitros cada. Cinco minutos depois afastava o corpo, com meia dúzia de tiros calibre 9mm, para liberar espaço para abrir a porta do automóvel. Senti alguma coisa diferente, os sabores e dissabores da vida pareciam ter uma conotação mais nobre, mais clássica, como  beber o vento do bater das asas de um Beija-Flor.

Há pouco acabei de sentir o prazer de ver uma terrível dor em minha garganta ir embora, dor de uma inflamação nas amídalas. Amídalas que minha mãe achava que eu já não as tinha. A dor demorou demais para passar, quatro dias sem comer, sem conseguir beber água ou dormir. Cheguei a entrar em desespero, pensei ser um pressagio de algo maior. A fúria de Ògún. Tinha a sensação de ser o Beija-Flor em vôo incerto, no alto mar, sob forte tempestade.

Seis de janeiro de 2011, às 4:50 da manhã, instalou-se a calmaria, já não era o bater de asas desesperado, descompassado, exaustivo, a água que insistia em invadir minha garganta e narinas, que por vezes me engasgava. Agora é o vento morno, suave e as cores das asas que por vezes transpassavam meus olhos, quando as batia em extrema velocidade, completamente secas. Crianças e adultos sorriem, Celebram, dançam, me recebem com carinho.

A mãe secou os cabelos do menino molhados pela jornada, acariciou sua cabeça por alguns minutos e o chamou: "Meu filhinho". Ele dessa vez não retrucou, nem ficou constrangido.

A menina sorriu com ele na chuva, se deixou carregar para vencer um terreno enlameado, serviu peixe com alcaparras, sorvete e cerveja especial. Cedeu um bom lugar no lado direito da sua cama, colheram doces toques, ela acariciou o seu pé. Deixaram tudo no lugar.
O retorno do Beija-Flor foi seguro, seco e furtivo.